Passado o grande alvoroço das movimentações e agitações que assolaram esta que é a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo, resta esperar baixar a poeira que ainda esvoaça, o sangue escorrer com a chuva para os bueiros, há que se perguntar o que resta. Resta esse ranço de medo, essa prontidão perene diante do que, afinal de contas, nos parece inevitável.
Agora nos monitoram os posts nos blogs? As mensagens na internet? Os telefonemas aos amigos? Os passos na noite escura?
O Grande Irmão espreita com seus olhos eternamente abertos e ouvidos atentos. Somos todos suspeitos? Somos confrades daqueles que estão encerrados em suas celas e, no entanto, tão mais livres do que nós? Somos presa de nosso medo e escravos de nossa apatia? Que fizemos? Que sindicato pensou em fazer uma manifestação em repúdio à violência e à falta de segurança, diante de algo que aconteceu, mas que não podia e nem devia acontecer? Que grupo de estudantes foi às ruas pacificamente gritar que a população precisa pensar sua história no decorrer das mazelas políticas, da incompetência e do descaso? Não para criar mais confusão, mas para criar em si mesmo e nos outros esclarecimentos. Que sociedade é essa que somos que abdicou de pensar?
Nos trancaremos em casa, colocaremos grades nas portas e janelas, blindagem nos carros, muitos irão querer andar armados, não sairemos mais à noite, tão bela hora do dia, porque estamos presos em nossa própria apatia e alienação.
Nós só queremos paz e tranqüilidade, nossa cervejinha toda sexta-feira e nosso futebol no domingo, nossa novela na TV e algum noticiário sobre coisas trágicas que acontecem, felizmente, distante de nós. Nós só queremos pegar o metrô cheio para o trabalho e não reclamar, aboletarmo-nos nos ônibus também cheios e reclamar menos ainda, eleger nossos representantes políticos sempre mais ricos do que nós que por nós muito poucos dentre tantos trabalham e trabalham honestamente.
Fazemos piadas. Sobre a desgraça e a tragédia, sobre a incerteza de ser uma nação rica, sobre as fraquezas e falta de caráter de nossos políticos, sobre a morte em cada esquina, sobre o falível e sofrível sistema de ensino. E vamos aos bares reclamar nossa falta de sorte. Bem que podíamos ser os Estados Unidos ou a Inglaterra. Por que não somos a Alemanha ou a França? Ou bem que podíamos ter sido colonizados pela Holanda. Nós somos nossa maior piada.
Mas agora tudo vai passar no grande recesso julino, vamos ser hexacampeões do mundo e ostentar mais este título tão inútil como essas minhas pobres e meras palavras. Pão e circo com pinga e cerveja. E futebol. Sugiro dois carnavais, um sempre em fevereiro e outro em novembro, precisamos de mais circo, muito mais do que pão.
Sei que agora mães atônitas de pessoas que ostentavam fardas, ou não, velam, inconsoláveis, covas de cemitérios. Um pedaço tão pequeno de chumbo ou sei lá o que é mais do que suficiente para por fim ao trabalho esmerado e demorado da natureza. E a vida não vale nada quando entre lágrimas essas mães perguntam-se: por quê? E filhos perguntarão por seus pais e suas mães que desapareceram numa segunda-feira qualquer de um mês qualquer, numa hora qualquer, e estarão órfãos não só dele, mas órfãos de dias vindouros, órfãos de porvir. E odiarão mais os que estão encarcerados, tão mais livres do que nós, e esse ódio alimentará o ódio contrário e nada haverá que pare de alimentar o ódio que alimenta o ódio. E tudo tendo paradoxalmente iniciado por um pretenso e alegado amor, a visita filial no indulto do dia das mães, essas que quando pariram seus filhos e quando os geraram teria havido ainda amor?
Mas há a copa do mundo... seremos hexacampeões. E sempre tem carnaval, ninguém atrapalha o carnaval. E nem a novela para algum horário extraordinário para informar que a realidade está se tornando a nossa pior novela.
E depois de tudo tem o horário eleitoral gratuito, quando grudaremos nossos olhos na tela para rirmos das piadas sobre o que deveria ser sério e para alimentar nossas próximas piadas.
E rimos tanto que não percebemos que rimos de nós mesmos.
Agora nos monitoram os posts nos blogs? As mensagens na internet? Os telefonemas aos amigos? Os passos na noite escura?
O Grande Irmão espreita com seus olhos eternamente abertos e ouvidos atentos. Somos todos suspeitos? Somos confrades daqueles que estão encerrados em suas celas e, no entanto, tão mais livres do que nós? Somos presa de nosso medo e escravos de nossa apatia? Que fizemos? Que sindicato pensou em fazer uma manifestação em repúdio à violência e à falta de segurança, diante de algo que aconteceu, mas que não podia e nem devia acontecer? Que grupo de estudantes foi às ruas pacificamente gritar que a população precisa pensar sua história no decorrer das mazelas políticas, da incompetência e do descaso? Não para criar mais confusão, mas para criar em si mesmo e nos outros esclarecimentos. Que sociedade é essa que somos que abdicou de pensar?
Nos trancaremos em casa, colocaremos grades nas portas e janelas, blindagem nos carros, muitos irão querer andar armados, não sairemos mais à noite, tão bela hora do dia, porque estamos presos em nossa própria apatia e alienação.
Nós só queremos paz e tranqüilidade, nossa cervejinha toda sexta-feira e nosso futebol no domingo, nossa novela na TV e algum noticiário sobre coisas trágicas que acontecem, felizmente, distante de nós. Nós só queremos pegar o metrô cheio para o trabalho e não reclamar, aboletarmo-nos nos ônibus também cheios e reclamar menos ainda, eleger nossos representantes políticos sempre mais ricos do que nós que por nós muito poucos dentre tantos trabalham e trabalham honestamente.
Fazemos piadas. Sobre a desgraça e a tragédia, sobre a incerteza de ser uma nação rica, sobre as fraquezas e falta de caráter de nossos políticos, sobre a morte em cada esquina, sobre o falível e sofrível sistema de ensino. E vamos aos bares reclamar nossa falta de sorte. Bem que podíamos ser os Estados Unidos ou a Inglaterra. Por que não somos a Alemanha ou a França? Ou bem que podíamos ter sido colonizados pela Holanda. Nós somos nossa maior piada.
Mas agora tudo vai passar no grande recesso julino, vamos ser hexacampeões do mundo e ostentar mais este título tão inútil como essas minhas pobres e meras palavras. Pão e circo com pinga e cerveja. E futebol. Sugiro dois carnavais, um sempre em fevereiro e outro em novembro, precisamos de mais circo, muito mais do que pão.
Sei que agora mães atônitas de pessoas que ostentavam fardas, ou não, velam, inconsoláveis, covas de cemitérios. Um pedaço tão pequeno de chumbo ou sei lá o que é mais do que suficiente para por fim ao trabalho esmerado e demorado da natureza. E a vida não vale nada quando entre lágrimas essas mães perguntam-se: por quê? E filhos perguntarão por seus pais e suas mães que desapareceram numa segunda-feira qualquer de um mês qualquer, numa hora qualquer, e estarão órfãos não só dele, mas órfãos de dias vindouros, órfãos de porvir. E odiarão mais os que estão encarcerados, tão mais livres do que nós, e esse ódio alimentará o ódio contrário e nada haverá que pare de alimentar o ódio que alimenta o ódio. E tudo tendo paradoxalmente iniciado por um pretenso e alegado amor, a visita filial no indulto do dia das mães, essas que quando pariram seus filhos e quando os geraram teria havido ainda amor?
Mas há a copa do mundo... seremos hexacampeões. E sempre tem carnaval, ninguém atrapalha o carnaval. E nem a novela para algum horário extraordinário para informar que a realidade está se tornando a nossa pior novela.
E depois de tudo tem o horário eleitoral gratuito, quando grudaremos nossos olhos na tela para rirmos das piadas sobre o que deveria ser sério e para alimentar nossas próximas piadas.
E rimos tanto que não percebemos que rimos de nós mesmos.
E é triste, o riso mais triste que já vi.