quinta-feira, março 22, 2012

A Rede e os Peixes

O mundo da importância superlativa é o mundo virtual, este mundo dos sites e dos blogs, dos mini blogs, este lugar virtual que é o nosso outdoor, por meio de que eu faço minha propaganda absolutamente desinteressante.

A internet tem a mágica de ser o lugar onde eu posso mais me mostrar me escondendo.

E nunca fomos tão pobres. Nunca fomos tão ridículos. Nunca fomos tão carentes.

Ali, na minha página, eu sou simplesmente o máximo, penso e digo o que quero, trato as pessoas e as questões da maneira que bem entender. Sou implacável, imperturbável, imperdoável. E minto à vontade, porque não há ninguém por perto que me conheça o suficiente para saber que estou mentindo.

Depois de ler isto aqui, você vai verificar suas páginas, irá lá para conferir se não incorre neste erro. Não precisa! Você incorre sim. Mas não está só, pelo menos não nessa imbecilidade. Há uma legião de iguais a você por ai, uns mais iguais, outros menos iguais e alguns até iguais de um jeito diferente. É. Já inventaram isso: um jeito diferente de ser igual.

Cômico isto e já disseram. Eu tenho duzentos e oitenta e sete amigos virtuais. Há alguns deles que eu nuca vi mais gordo. Sim, tem muitos deles que são meus amigos reais que até se parecem com esses virtuais por estas páginas.

Isto é o mundo virtual. Bem vindos à rede. Nome apropriado. Rede que liga e interliga, do tipo estar ligado em rede, eu com cada um e cada um comigo, todos na mesma sintonia. E rede daquelas que captura e arrasta o peixe.

Somos isto mesmo nesta rede. Somos todos peixes.

E não venha justificar as vantagens antes de mostrá-las, se é que pode mostrar: isto é um modo de estarmos conectados com o mundo e o mundo conosco. Modo de estarmos antenados, plugados. Coisa nenhuma, é só um modo de estarmos sós, tão mais sós do que nunca antes pudemos estar, com direito à ilusão de que estou acompanhado de milhares de pessoas...

Bobagem!

E bobagem em rede que eu posso compartilhar e você curtir. Chique!

segunda-feira, março 12, 2012

Um grito pela solidão


Eu ontem gritei o seu nome
Porque eu me senti sozinho,
Como nunca antes me vi,
Como nunca havia me visto tão só,
Tão só como nunca antes me senti.
E para além dessa solidão
Toda a dor do deserto
E os ermos do silêncio
E foi ali que me senti mais só
E gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

Eu podia tecer meu desespero
Com as linhas mais finas do sofrimento,
Com todas as palavras mais tocantes
E com esses meus gritos emocionantes.
E podia construir nessa dor lancinante,
A maior dor que há no mundo e, mais que isto,
A mais duradoura...
Podia falar todo dia o dia todo
Da agonia de acordar vivo e ainda só.
Mas, em vez disso, eu gritei o seu nome,
Daqui da inutilidade desse silêncio,
Daqui do absurdo dessa escuridão
Do inferno em que fui cair
Eu gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

Eu podia tirar forças de onde não tenho
E acalentar pobres ilusões que nem existem.
Eu podia fantasiar todo um mundo
E neste mundo uma vida,
Nesta vida, enfim, um amor...
Mas a realidade todo dia me dá na cara,
Eu acordo triste de nenhum sonho,
Eu acordo vazio e transido de medo,
Acordo varrido pelas promessas da morte
E, quando vi que não vi, gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

E ontem eu me vi triste
Como nunca imaginei que seria,
Como nunca pensei que pudesse ser.
E dei de entender tanto de tristeza,
A tristeza que tortura devagar antes de nos matar,
Tristeza que é cruel e sanguinária, tão ordinária.
E para quem dizer dessa tristeza?
Pela última vez eu gritei o seu nome
E foi mais triste porque me vi mais sozinho.
Da distância da morte eu gritei o seu nome...

Mas você vive e não me ouviu...

domingo, março 11, 2012

Da solidão e tudo em volta


Daí você fica pescando aquelas músicas de tantas épocas atrás... Então você esbarra de leve numa vivência, que claro que é só sua, que não dá para explicar nem com um tratado, não dá para fotografar, não dá para passar adiante nem com poesia. Aí essa vivência ali relembrada ressurge na forma de uma pequena dor, numa emoção totalmente indescritível. É essa dor, essa espécie de dor que chamamos SAUDADE!

O Que Será? (À Flor da Pele), cantada por Chico e Milton Nascimento... esta é a música culpada disto por ora, dessa vez. Mas há muitas, são as músicas e especialmente quando me entrego a estes momentos de mais completa inutilidade. Se há algo para fazer eu não quero. Se eu quero não há. E o cortejo segue, carregando o que está morto sendo seguido por aqueles que imaginam que estão vivos.

Este final de semana fiquei em casa. Fico sempre e isso nunca me incomoda. Há muito o que fazer, ler, escrever, ver filmes, fotografar coisas e passear. Indeciso se faço uma coisa ou outra, acabo não fazendo nada.

E por umas horas eu estava ansioso. Não fico quase nunca e quando fico não gosto. A ideia de solidão tem me causado ansiedade. Queria que ela se resolvesse logo. Eu devia mandar um pedido de confirmação a todos os que me conhecem, para saber se vão me deixar sozinhos. Diante da unânime resposta positiva, seria mais fácil aceitar a solidão como um fato.

Sim, eu já me acostumei com ela e é exatamente isto o que me assusta. Sei viver e conviver com ela, mas quando preciso me livrar dela eu simplesmente não sei o que fazer. E me senti assim este final de semana, querendo sair, ver gente, fazer um monte de coisa na rua, em lugares cheio de gente, estar com gente que conheço e gosto.

Eu sou assim, acho que todos me conhecem. Se me ligarem agora eu sou capaz de me trocar e sair. Não importa a hora. Mas eu mesmo nunca ligo para ninguém para isto, nunca chamo.

Este final de semana eu fiz isto e ninguém percebeu. Deu vontade de gritar que eu estou me sentindo sozinho e não queria isso só por umas horas.

Acabei ficando sozinho de novo pensando na solidão. Em quando eu não a quiser e ficar como estes dias, sem saber o que fazer para me livrar dela.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Considerações Extemporâneas IV

(Metralhadora giratória ou coisa no ventilador...)

Já usei este título antes. Quando vem coisa assim, vem coisa aí...

Uma fase interessante da vida e um tanto assustadora: não digo mais que vou fazer as coisas. Eu vou lá e faço. Depois digo: fui lá e fiz. Então deve ser uma fase assim: fui lá e fiz...

O mundo carece de alguma avaliação. O mundo carece de outras e novas classificações. Vai ter que ser a pessoa desimportante aqui dizer que michel teló, restart e os funk de hoje em dia são tudo uma merda? Então tá, eu digo: nem a merda merece essa comparação. E sim, tudo com letra minúscula. Não há nada convencionado menor que a letra minúscula. Pior que isso (ou melhor) só se eu escrevesse com merda na parede suja da consciência alienada de todo mundo. E acima são apenas três exemplos. Poderia dizer isso da globo e de tudo que vem dentro dela, dos abomináveis discursos políticos, enfim, das notícias que a mídia nos proporciona diariamente, tão importantes quanto o peido que acabei de dar agora, que só fede e não serve para mais nada. E poderia também dizer coisa semelhante ou pior, se eu achasse coisa pior para dizer, a respeito das internetices e feicebuquices, das orkutices, twitterices, msnices, das bloguices e todas as outras esquisitices e tais. Sim, eu estou lá. Porque justo eu ficaria de fora dessa zona?

Tem também as recantices, de que faço parte, embora ninguém quase perceba isso. Isto se refere, para quem não sabe, ao site de poesias recanto das letras. A fauna e a flora lá é bastante abundante. E eu me contento em ser mais ou menos lido lá, pouco, muito pouco comentado e bastante escrito. Demais até do que eu mesmo queria, mas não tenho controle sobre isto.

E agora para dizer que todos estes meus blogs estarão em dia, atualizados. É hora de dizer tudo o que ficou para trás.

Quando eu enrolava para sair de casa hoje, puxei da estante um livrinho de antologia de poesias de Mário Quintana. E li aqui e ali uns dois ou três poemas. E me veio essa idéia (o Word burro acentua para mim... deixa!) de classificação, depois, é claro, daqueles pensamentos acerca de qualquer coisa ou coisa nenhuma que leva a lugar nenhum, do tipo assim: Como eu gosto de poesia! E, ao ler Mário Quintana,acho que a poesia carece de outro tipo de classificação. Esqueçamos da métrica e das rimas, do ritmo, enfim, da camisa de força que se coloca num poema até ele virar um soneto decassílabo (não que eu seja contra isso, de jeito nenhum, não sou é capaz disso). Mas queria mesmo é refazer a análise da poesia de vários autores de que gosto e dos seus poemas de que mais gosto de uma forma diferente. Vamos a isto, então.

Que idéia (olha o corretor ortográfico de novo!) que idéia mais estapafúrdia é esta que acabei tendo hoje de manhã: classificar os poemas pela emoção que nos causam. É, isso mesmo! E poderia até se criar uns smileys para isso, ou não. Haveria alguns poemas, do Quintana mesmo, que eu diria que é igual a um “friozinho na barriga”; e as classificações seguiriam por ai: um leve susto como quem foi despertado de uma distração, um aperto no coração, uma pontada de saudade de um amor que se foi, de uma pessoa que se foi, uma dor aguda de uma saudade que nunca vai ter fim; alguns outros, eu sei, seriam recebidos com a emoção de um sorriso que se insinua furtivamente no canto da boca, ou ainda alguns que não escapam de um olhar mais atento, quando a gente aperta o olho e para ver mais do que é capaz de ver. Há poemas também, sabemos disto, que nos arrancariam aquele ar de boca aberta de quem diz “mas vá, que isto não é possível” ou aquele franzido na testa que mostra toda a gravidade e seriedade que o assunto merece.

E o poema de amor? Eu diria que são desses que deixam a gente com um sorriso idiota na cara, daqueles que não se desfaz por nada. Ou que deixa a gente com o olhar perdido no nada, como se a realidade não passasse de um cais de onde a gente espera a nau que trará aquela pessoa que a gente ama.

São bobeiras. A filosofia e a ciência se fizeram de bobeiras como essa. Nós aprendemos a falar, articulamos a fala, porque um dia fomos capazes de brincar com os sons. Isto é o que dizem.

Com a poesia, eu aprendi a brincar com as emoções...

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