quinta-feira, janeiro 22, 2009

Três poemas e uma divagação

A NÉVOA

Do lado de dentro dos seus olhos
Para fora a pretensa visão
E entre seus olhos e tudo

Além da pretensa visão
A névoa...

Como um véu a encobrir as coisas
Preservando segredos
Prejudicando toda nitidez
E gerando incertezas
A névoa...

Entre o que você vive
E o que você sonha
A névoa


O IMPOSSÍVEL CARINHO

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira

TOCANDO EM FRENTE

É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

Renato Teixeira

O primeiro é meu, se assim se pode dizer. Os outros dois está dito de quem são.
Não chegou meu computador. Eu o teria há dias em casa, mas não chegou. Teria feito muito com ele, mas não chegou. Última semana de férias, semana que vem estou na estrada de novo, e já a 700 km daqui, simplesmente odeio essa distância: qual é a distância de sua proximidade? Ninguém responde.
Eu só queria pulsar, sorrir e florir... mas vai que daí é pedir muito. Então é por isso que não quero contar-te o meu desejo. Entre o que eu quero e o que eu tenho, a névoa...
Bom que arrumei a casa toda. Deu raiva de tanto que ficou arrumada. A certa altura, na iminência de um grito, os olhos do gato pousados sobre mim, dizendo por uma telepatia que não se explica: você não está sozinho, eu estou aqui! Então somos só eu e você, amarelo peludo! A gente até que se diverte e se entende. Acho que prestamos muito bem para o currículo um do outro, ou para a biografia.
O amor também não bateu nessa porta. A mulher da minha vida talvez tenha passado por aqui, talvez não, nem chegou, não cruzamos os olhares, talvez amemos um ao outro e não sabemos, todo mundo sabe, nós não. Isso é até bonito, mas não muito funcional. Ela vinha caminhando e na metade do caminho encontrou outro. Bom para ela...
Eu? Ora, eu vou tocando em frente, apesar do impossível carinho. E tropeçando e errando o caminho, por causa da névoa.