Iminência de abismos e desertos... turbulências de silêncios e sombras.
Uma ressaca de um mar dentro de mim, atônito, como quem espera descer a lâmina da guilhotina. Um momento de contemplação de horizontes distantes, preso ao cais, coberto de céus e desprovido de asas, ou conhecedor de todos os caminhos mas esquecido de pés e passos. Minhas estradas e minhas estadas em tantos lugares ermos.
Minhas janelas e meus quintais, meus dias tão mal corridos, debruçado em outros umbrais, refém de todas as possíveis tristezas tais e quais.
Meus poemas esquecidos num baú empoeirado da mente, meus sonhos de demente, meus brinquedos de criança, minha infância iluminada de estrelas.
Meu olhar nauseabundo para qualquer coisa que não é desse mundo, uma capacidade de inventar e desfazer o inventado, redesenhar tudo que deu errado, pintar de outras cores. Mesmo que seja para ficar pior, que é melhor do que estava tão mal concebido, percebido e resolvido. E o pior de tudo é tudo demorar tanto.
Minha fiel e leal solidão, aquela lágrima que me escapa sorrateira, meu olhar de madrugadas inteiras, contente sempre por não encontrar nada. Horas que passam são areia de ampulhetas, areia que escoa é alma que esvoaça, e aos poucos acaba em fumaça. E se espalha em imensidão ainda não percorrida.
Aceitar que isso é só isso e o que mais seria além disso se não pudesse ser só isso?
Cansaço de nascer e renascer, saudade de morrer, negado descanso, renegada eternidade. E um riso histérico diante de nenhuma verdade.
Minhas noites vazias, em vigília, terrível batalha de um guerreiro solitário contra um exército de fantasmas. Minhas mãos esquecidas da espada, minha espada esquecida da jornada. Na calada da noite o choro soar como uma gargalhada.
Meus olhos esvaziados de olhares, meus pedaços perdidos em mil lugares, minhas certezas sobre tudo tão elementares.
Saudade de mim mesmo quando a esmo me perco a procura de quem me olha nos espelhos, para me ver com olhos vermelhos, uma dor no peito que faz o amor dobrar-me de joelhos. Vontade de ficar deitado no chão, roçar o chão, de ser o chão de meus próprios vôos inimagináveis.
Um amontoado de gritos que se calaram e não cabem mais em mim, um não saber sentir se sentir não for sentir assim. Sentimentos anacrônicos, sou eu o próprio fantasma que me assombra, o exército que me ameaça. A graça da desgraça é ela ficar mais bela em poesia do que em prosa.
Meus pensamentos chovem para regar hortas de silêncios. E se me molha uma idéia qualquer a mais sobre qualquer coisa, a realidade tem seus sóis para me evaporar a imaginação.
Todas as horas são absurdas, todos os momentos pesam sobre mim, o tempo é esse monstro com sua bocarra aberta, insaciável e implacável. Eu velho me olho menino me olhando velho, eu sou todos e ninguém, eu sou tudo e sendo tudo sou até o nada. Essa idéia inconcebível de infinito, essa eternidade que não cabe em mais um único e intangível instante, sempre a um passo de qualquer abismo de todos os abismos que formam o abismo.
Eu mudo um segundo antes do grande grito, sufocado de suores noturnos, afogado em pesadelos renitentes, eu, senhor de passos no escuro, de olhares perdidos em luzes mortas, eu, trancafiado por todas as portas, eu, essa sombra solitária e triste com o olhar perdido em todos os cais. Eu, um grão de tristeza num imenso e desconhecido mar, impregnado de todas as dores imortais. Eu e minhas velas rasgadas, todas as naus desgovernadas.
Esse desprezo, esse asco, essa náusea, essa repugnância de sentimentos que podem ser assim tão normais, meus pressentimentos mais imorais, viver é dar vazão a espasmos colossais, entregar-se a inquietudes colossais, verter angústias por todos os poros, deixar-se esmagar pelo peso de todas as eternidades, caçar, correr, fugir de todas as realidades.
Caminhar como quem flutua, penetrar dimensões imemoriais, deslocar-se, “descolocar-se”, atirar-se de todas as alturas, perder-se em todas as profundezas, devorar distâncias, os esquecimentos, renegar identidades, diluir-se em sentimentos, estranhar amenidades, não pensar, não ser, não querer, sequer imaginar nada além da pedra que há dentro da pedra, apenas pedra, só pedra, mais pedra, nada mais, pedra que não se sabe pedra, mas é tão bem sem saber que é. Apenas pedra.
Alguém me chama, silêncio da noite, vazio, distâncias, olhar para dentro de si mesmo, e eu me esqueço o nome, ouço sinfonias do vento, desfaço-me em vento, sinto o vento, sei o vento, sou o vento. Esqueço-me de meu nome, nessa fome, inúteis memórias, sou esquecimento, de vento me alimento. Para me esvair em sinfonias.
Amor! Seja como for, era melhor não ter nascido, não ter me tomado pela mão, não ter colocado o leite do peito em minha boca, não ter acendido o fogo que arde, não ter povoado de sonhos meus dias com tanto alarde, nem me aberto os olhos, nem me tirado do chão, não ter sido luz para essa escuridão, canção de meu silêncio, minha melhor e pior parte, minha insignificância e minha imensidão.
Amor! Seja como for, melhor era não ter me consumido a carne, triturado os ossos, feito-me em destroços, meus escombros sem assombros, não ter espalhado os despojos de tantas quimeras, quatro cantos do mundo, sete mares, confins do inferno, minhas ilusões pelos ares, tempestade repentina, rastro de destruição, uma guerra para acabar com todas as guerras, meu universo apenas um olhar para o vazio, meus devaneios, meu desvario, a um passo da loucura ou da lucidez na embriagues de minhas palavras mortas e paradoxais, passos entre troncos, pisando folhas mortas, entreabertas portas, entrecortados clamores, exorcismos de todos os amores, seja como for, amor, melhor não ter me tirado desses umbrais, não ter trazido choro e ranger de dentes nas catedrais, não ter me privado do consolo de um último cais. Seja como for, tinha que ter sido para que eu não soubesse como seria nunca mais. Amor, seja como for, não há mais sol em meus quintais.
Eu fui feito de minha própria imaginação, eu invento o que me inventa, e eu sei o que é trilhar sozinho essa estrada de sonhos, isso tudo que inventei, não sei se sou real ou algo da mente, fenômeno ou pensamento, recônditos inacessíveis, meandros, atalhos, descaminhos, inventar sentido e direção, e viver do que se inventa, e o que não invento é tudo aquilo em que me desfaço, meu melhor traço, mas não invento a luz nem a escuridão, uma palavra torpe é que me inventa e um silêncio imenso é o que me desfaz. E me desfaço em poemas, silêncio de palavras torpes, entre o grito e o calar, apenas um pouco de paz.
E o que me traz à tona é essa agonia entre quatro paredes, essa ausência de janelas, portas estreitas, essa angústia nas mãos, papéis brancos, suspiros e soluços e solavancos, incontáveis giros dos ponteiros, tic-tacs incessantes, areia que escoa rápido, não há outra ampulheta, só essa me cabe, me serve, delimita e me define, água nos pés de um outro mar, galhos balançados pelo vento, e se me arrasta esse tormento para mais um amanhecer, há esse esmorecer, esse padecer e perecer um dia a mais, fenecer de flores ilusórias em meus jardins regados de lagrimas, suor e sangue.
Seja como for, cansaço apenas, amor tão tolo, tão vil e humano, amor profano, mundano, desprovido de grandes coisas pequenas.
Repleto de distâncias, seja como for, amor apenas.
Uma ressaca de um mar dentro de mim, atônito, como quem espera descer a lâmina da guilhotina. Um momento de contemplação de horizontes distantes, preso ao cais, coberto de céus e desprovido de asas, ou conhecedor de todos os caminhos mas esquecido de pés e passos. Minhas estradas e minhas estadas em tantos lugares ermos.
Minhas janelas e meus quintais, meus dias tão mal corridos, debruçado em outros umbrais, refém de todas as possíveis tristezas tais e quais.
Meus poemas esquecidos num baú empoeirado da mente, meus sonhos de demente, meus brinquedos de criança, minha infância iluminada de estrelas.
Meu olhar nauseabundo para qualquer coisa que não é desse mundo, uma capacidade de inventar e desfazer o inventado, redesenhar tudo que deu errado, pintar de outras cores. Mesmo que seja para ficar pior, que é melhor do que estava tão mal concebido, percebido e resolvido. E o pior de tudo é tudo demorar tanto.
Minha fiel e leal solidão, aquela lágrima que me escapa sorrateira, meu olhar de madrugadas inteiras, contente sempre por não encontrar nada. Horas que passam são areia de ampulhetas, areia que escoa é alma que esvoaça, e aos poucos acaba em fumaça. E se espalha em imensidão ainda não percorrida.
Aceitar que isso é só isso e o que mais seria além disso se não pudesse ser só isso?
Cansaço de nascer e renascer, saudade de morrer, negado descanso, renegada eternidade. E um riso histérico diante de nenhuma verdade.
Minhas noites vazias, em vigília, terrível batalha de um guerreiro solitário contra um exército de fantasmas. Minhas mãos esquecidas da espada, minha espada esquecida da jornada. Na calada da noite o choro soar como uma gargalhada.
Meus olhos esvaziados de olhares, meus pedaços perdidos em mil lugares, minhas certezas sobre tudo tão elementares.
Saudade de mim mesmo quando a esmo me perco a procura de quem me olha nos espelhos, para me ver com olhos vermelhos, uma dor no peito que faz o amor dobrar-me de joelhos. Vontade de ficar deitado no chão, roçar o chão, de ser o chão de meus próprios vôos inimagináveis.
Um amontoado de gritos que se calaram e não cabem mais em mim, um não saber sentir se sentir não for sentir assim. Sentimentos anacrônicos, sou eu o próprio fantasma que me assombra, o exército que me ameaça. A graça da desgraça é ela ficar mais bela em poesia do que em prosa.
Meus pensamentos chovem para regar hortas de silêncios. E se me molha uma idéia qualquer a mais sobre qualquer coisa, a realidade tem seus sóis para me evaporar a imaginação.
Todas as horas são absurdas, todos os momentos pesam sobre mim, o tempo é esse monstro com sua bocarra aberta, insaciável e implacável. Eu velho me olho menino me olhando velho, eu sou todos e ninguém, eu sou tudo e sendo tudo sou até o nada. Essa idéia inconcebível de infinito, essa eternidade que não cabe em mais um único e intangível instante, sempre a um passo de qualquer abismo de todos os abismos que formam o abismo.
Eu mudo um segundo antes do grande grito, sufocado de suores noturnos, afogado em pesadelos renitentes, eu, senhor de passos no escuro, de olhares perdidos em luzes mortas, eu, trancafiado por todas as portas, eu, essa sombra solitária e triste com o olhar perdido em todos os cais. Eu, um grão de tristeza num imenso e desconhecido mar, impregnado de todas as dores imortais. Eu e minhas velas rasgadas, todas as naus desgovernadas.
Esse desprezo, esse asco, essa náusea, essa repugnância de sentimentos que podem ser assim tão normais, meus pressentimentos mais imorais, viver é dar vazão a espasmos colossais, entregar-se a inquietudes colossais, verter angústias por todos os poros, deixar-se esmagar pelo peso de todas as eternidades, caçar, correr, fugir de todas as realidades.
Caminhar como quem flutua, penetrar dimensões imemoriais, deslocar-se, “descolocar-se”, atirar-se de todas as alturas, perder-se em todas as profundezas, devorar distâncias, os esquecimentos, renegar identidades, diluir-se em sentimentos, estranhar amenidades, não pensar, não ser, não querer, sequer imaginar nada além da pedra que há dentro da pedra, apenas pedra, só pedra, mais pedra, nada mais, pedra que não se sabe pedra, mas é tão bem sem saber que é. Apenas pedra.
Alguém me chama, silêncio da noite, vazio, distâncias, olhar para dentro de si mesmo, e eu me esqueço o nome, ouço sinfonias do vento, desfaço-me em vento, sinto o vento, sei o vento, sou o vento. Esqueço-me de meu nome, nessa fome, inúteis memórias, sou esquecimento, de vento me alimento. Para me esvair em sinfonias.
Amor! Seja como for, era melhor não ter nascido, não ter me tomado pela mão, não ter colocado o leite do peito em minha boca, não ter acendido o fogo que arde, não ter povoado de sonhos meus dias com tanto alarde, nem me aberto os olhos, nem me tirado do chão, não ter sido luz para essa escuridão, canção de meu silêncio, minha melhor e pior parte, minha insignificância e minha imensidão.
Amor! Seja como for, melhor era não ter me consumido a carne, triturado os ossos, feito-me em destroços, meus escombros sem assombros, não ter espalhado os despojos de tantas quimeras, quatro cantos do mundo, sete mares, confins do inferno, minhas ilusões pelos ares, tempestade repentina, rastro de destruição, uma guerra para acabar com todas as guerras, meu universo apenas um olhar para o vazio, meus devaneios, meu desvario, a um passo da loucura ou da lucidez na embriagues de minhas palavras mortas e paradoxais, passos entre troncos, pisando folhas mortas, entreabertas portas, entrecortados clamores, exorcismos de todos os amores, seja como for, amor, melhor não ter me tirado desses umbrais, não ter trazido choro e ranger de dentes nas catedrais, não ter me privado do consolo de um último cais. Seja como for, tinha que ter sido para que eu não soubesse como seria nunca mais. Amor, seja como for, não há mais sol em meus quintais.
Eu fui feito de minha própria imaginação, eu invento o que me inventa, e eu sei o que é trilhar sozinho essa estrada de sonhos, isso tudo que inventei, não sei se sou real ou algo da mente, fenômeno ou pensamento, recônditos inacessíveis, meandros, atalhos, descaminhos, inventar sentido e direção, e viver do que se inventa, e o que não invento é tudo aquilo em que me desfaço, meu melhor traço, mas não invento a luz nem a escuridão, uma palavra torpe é que me inventa e um silêncio imenso é o que me desfaz. E me desfaço em poemas, silêncio de palavras torpes, entre o grito e o calar, apenas um pouco de paz.
E o que me traz à tona é essa agonia entre quatro paredes, essa ausência de janelas, portas estreitas, essa angústia nas mãos, papéis brancos, suspiros e soluços e solavancos, incontáveis giros dos ponteiros, tic-tacs incessantes, areia que escoa rápido, não há outra ampulheta, só essa me cabe, me serve, delimita e me define, água nos pés de um outro mar, galhos balançados pelo vento, e se me arrasta esse tormento para mais um amanhecer, há esse esmorecer, esse padecer e perecer um dia a mais, fenecer de flores ilusórias em meus jardins regados de lagrimas, suor e sangue.
Seja como for, cansaço apenas, amor tão tolo, tão vil e humano, amor profano, mundano, desprovido de grandes coisas pequenas.
Repleto de distâncias, seja como for, amor apenas.