A inquietação já tentei descrever tantas vezes... é algo que me faz procurar não sei o que em todas as gavetas; que me faz não ser capaz de ir dormir enquanto não fizer algo que nunca consigo descobrir o que é. Ela é seguida de uma insatisfação irritante.
Devia estar fazendo as malas, já que estar de partida virou meu ofício e não estar aqui é a minha profissão. E tem de ser uma força esse descomprometimento com tudo o que se deseja, tudo o que seria tão simples se não fosse tão improvável. Aquele se entrega à estrada paga o pedágio de não ter uma vida sentimental. As pessoas que vou conhecendo pelo caminho até tentam estabelecer um contato mais duradouro. Mas eu sei que quando meus olhos estiverem vislumbrando as mesmas paisagens passando rápidas, elas estarão esquecidas.
Vendo meu tempo a troco de pagar as reles contas de tudo que adquiri que, afinal, me faz ser exatamente a mesma pessoa desprovida que sempre venho sendo. E de tanto que não tenho não sei o que me falta...
Falta talvez um roçar n'alguma pequena e insignificante emoção, o realizar, ainda que efêmero, de um mísero desejo. Falta lutar ainda para não esquecer o gosto de ter prazer. E o que sobra é sempre esse asco no fim do dia, essa monotonia torturante de as coisas teimarem em se repetir, numa repetição fortemente consolidada em rotina, penosa e inaceitável rotina.
Como devem estar os trens indo de um lugar a outro na Europa? E o vento na África? Que clima faz agora no bem longe daqui? Que roupa levo na mala para esse amanhã que ameaça chegar? Será que me darei bem com a comida do futuro? E o que tem do outro lado desse muro? Quanto mais há que se despertar para suportar essa percepção consciente?
“Que mais para o amor? Palavras? Só as escritas. Bastam as palavras escritas para um poema, sua música toda interior. Quando muito uns pianíssimos sutis. Ah, tão sutis, que não sabes nunca se os estás ouvindo ou só pensando neles.”
Os livros, os papéis e lápis, os poemas para serem lidos ou escritos, os romances, a próxima paixão que não acontece nunca, aquele gozo de satisfação por ter sido capaz de deixar tanto para trás, isso e muito mais, esperam entre a partida e o retorno, para depois não saber o que esperar. Esperam uma suspensão nesse ritmo não por mim a mim mesmo imposto, esperam o próximo duvidoso momento. E falam de coisas tão antigas que chamamos pelo nome de esperança, essa desgraçada que é a última que morre, mas morre. Falam de coisas da infância tão impalpáveis, meus potes de tinta, meus papéis coloridos, minha imaginação irrefreada e ilimitada, minha criatividade sem cercas de arame farpado... e de minhas histórias de amor, de meus sonhos de moleque.
Olha só o que veio nos fazer esse abrir de olhos... perder tudo o que fazíamos existir fora da gente de olhos fechados, bem fechados!
Devia estar fazendo as malas, já que estar de partida virou meu ofício e não estar aqui é a minha profissão. E tem de ser uma força esse descomprometimento com tudo o que se deseja, tudo o que seria tão simples se não fosse tão improvável. Aquele se entrega à estrada paga o pedágio de não ter uma vida sentimental. As pessoas que vou conhecendo pelo caminho até tentam estabelecer um contato mais duradouro. Mas eu sei que quando meus olhos estiverem vislumbrando as mesmas paisagens passando rápidas, elas estarão esquecidas.
Vendo meu tempo a troco de pagar as reles contas de tudo que adquiri que, afinal, me faz ser exatamente a mesma pessoa desprovida que sempre venho sendo. E de tanto que não tenho não sei o que me falta...
Falta talvez um roçar n'alguma pequena e insignificante emoção, o realizar, ainda que efêmero, de um mísero desejo. Falta lutar ainda para não esquecer o gosto de ter prazer. E o que sobra é sempre esse asco no fim do dia, essa monotonia torturante de as coisas teimarem em se repetir, numa repetição fortemente consolidada em rotina, penosa e inaceitável rotina.
Como devem estar os trens indo de um lugar a outro na Europa? E o vento na África? Que clima faz agora no bem longe daqui? Que roupa levo na mala para esse amanhã que ameaça chegar? Será que me darei bem com a comida do futuro? E o que tem do outro lado desse muro? Quanto mais há que se despertar para suportar essa percepção consciente?
“Que mais para o amor? Palavras? Só as escritas. Bastam as palavras escritas para um poema, sua música toda interior. Quando muito uns pianíssimos sutis. Ah, tão sutis, que não sabes nunca se os estás ouvindo ou só pensando neles.”
Os livros, os papéis e lápis, os poemas para serem lidos ou escritos, os romances, a próxima paixão que não acontece nunca, aquele gozo de satisfação por ter sido capaz de deixar tanto para trás, isso e muito mais, esperam entre a partida e o retorno, para depois não saber o que esperar. Esperam uma suspensão nesse ritmo não por mim a mim mesmo imposto, esperam o próximo duvidoso momento. E falam de coisas tão antigas que chamamos pelo nome de esperança, essa desgraçada que é a última que morre, mas morre. Falam de coisas da infância tão impalpáveis, meus potes de tinta, meus papéis coloridos, minha imaginação irrefreada e ilimitada, minha criatividade sem cercas de arame farpado... e de minhas histórias de amor, de meus sonhos de moleque.
Olha só o que veio nos fazer esse abrir de olhos... perder tudo o que fazíamos existir fora da gente de olhos fechados, bem fechados!