quinta-feira, outubro 19, 2006

Solidão Renitente

Solidão, esse tema renitente.
Trinity, em seu “Catástrofe Psicológica”, põe tudo de pernas pro ar, fazendo-me prestar mais atenção do que de costume a esse sentimento, de uma forma que não sei se quero e que não fiz até agora simplesmente por não querer. Ainda bem que derramou em poesia, uma língua que eu entendo, quer dizer, acho que entendo.
Eu falei em tantos poemas manuscritos, ainda não digitados, guardados para curtirem no tempo e assumirem uma forma mais eloqüente de um desespero que se quer sob controle ou de um descontrole que se quer na maior tranqüilidade.
Meus termos são “palavras cansadas”, “folhas mortas”, “um trem que vai e outro que vem... e não me leva pra nunca mais”, “silêncio”, e ainda ontem um poema em plena sala de aula vai me sair assim:

Vai, leva seu corpo
E me deixa morto
Nesse meu lugar que é o chão
E nessa vida que é solidão


Única coisa que lucro disso é um título para um próximo livro, “Folhas Mortas”, alusão a algumas andanças no meu conhecido Central Park, em que pensar na solidão sempre foi a praxe de perder-se entre troncos e pensamentos. A pisar as folhas mortas. Às quais ninguém contempla ou pelas quais ninguém vela.
Mas agora o que me intriga é saber que solidão é essa que minha querida amiga fala em seu post, que eu ainda não conhecia nela e, muito provavelmente, nem em mim. Abriu a Caixa de Pandora. Essa nossa amiga solidão saiu com uma outra cara, vestida de outra forma. Eu não tinha pensado nisso. Justamente nós que sabíamos lidar com o que queríamos da solidão e lutar contra o que não queríamos. Minha amiga pega essas duas coisas e joga num mesmo caldeirão e cozinha em fogo alto até a fervura. Agora resta-me digerir esse caldo.
A caça diária, a busca, a procura incessante por um pouco de algo em alguém que nos quebre essa sensação de que a solidão vai ser para sempre, inevitavelmente. E também essa sensação de não ser percebido pelos outros, não ser levado em conta, não considerado em seus sentimentos. "Esse aí está bem sem ninguém, porque ele não tem ninguém". Um paralogismo mais do que absurdo.
Olhar em volta e todo mundo ser assim tão normal. Normal em seus namoros, em seus beijos, em mãos juntas, abraçadinhos e você por seu turno dando-se conta de que ninguém lhe percebe o mínimo. Gostam de mim. Que desgostem então, esse sentimento é muito mais verdadeiro e coerente. Que me olhem e não me vejam, que eu fale e não me escutem, que eu escreva poemas e ninguém leia, que eu ame tanto e ninguém saiba, por não ter mais que saber.
Um dia, deveria ter contado antes para minha solitária amiga, uma visita à casa de um amigo com nossos amigos que ela tanto conhece e sabe quem é. A esposa desse amigo perguntava a todos se tinham arrumado namorada. Engraçado que não perguntava para mim. Namorada não combina mais comigo. Amar não faz mais parte do meu rol de sentimentos. Estar apaixonado deve ser uma coisa estranhável. Deve ser isso que a esposa de meu amigo via então em mim. Ou sabia a resposta. Seria como perguntar a um doente crônico se ele está bem.
A solidão será essa doença crônica e incurável.
Tem também um telefone em cima da mesa que nunca toca, nem por engano. E um silêncio enorme na sacada, diante do olhar indiferente das estrelas. E uma recusa em falar sozinho, nem que seja pra me distrair. E tem umas horas em que você é um ponto estático no espaço e o tempo não é linear a suceder-se em passado, presente e futuro, mas é alguma coisa toda em torno de você. Quando tudo acontece de uma só vez e tudo só pode ser sentido de um único modo.
Isso é a solidão. Só não sei se estou cansado dela. Por não saber se posso me cansar da única coisa que tenho. Não sei se posso nem me cansar...
Isso também é solidão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Li hoje. A solidão contínua aqui, e daqui pra frente, cada vez mais pra mim.

Seu post é mais explicativo que o meu, quase mais exato, não menos pungente e com tudo iss, solitário.