Estava agora há pouco jantando e bebendo com amigos do trabalho. Mais bebendo do que jantando, tudo bem, está tudo bem, aqui faz um calor de trinta e nove graus e são sete ou oito da noite, de dia fez muito mais e estávamos sob o teto de zinco de uma quadra de esportes, das oito às dezessete. Água, muita água, refrigerante e cigarros, muitos cigarros.
Batatais, cidade que tem uma catedral que é uma quase réplica da Basílica de São Pedro, em Roma, no Vaticano, em escala um oitavo menor. Não tenho fotos, não, nao tenho fotos... e uma praça com as árvores podadas a la Edward Scissorhands! Já disse que não tenho fotos!!!
O que me traz aqui a esta cidade, meus caros, é a pura necessidade do vil metal. Na mesa do bar fico maravilhado com uma Yamaha estradeira, a estrada ainda precisa me conhecer assim, só eu e ela e uma moto, dessas grandes, o vento na cara, a barba por fazer, o cabelo por pentear, o banho por tomar numa próxima cachoeira e um futuro inteiro ainda por se traçar, como as linhas amarelas e brancas da estrada, cheias ou tracejadas, tanto faz, para se voar no tempo qualquer ultrapassagem é permitida.
De súbito, como que pego de tocaia, percebo que elas vieram: tristeza e solidão.
Conto a uma amiga que não durmo bem há uns meses e que isso não é insônia. Porque insônia é querer dormir e não ser capaz. E eu quero sempre não dormir. E quando durmo não descanso, acordo mais arrebentado do que antes quando achava que estava deveras cansado. Hein?! Eu me canso até descansando.
Ela diz: "você não encontra prazer nas coisas, ou não tem encontrado". Eureka! Reiventemos a roda!!! E que ela seja redonda e que rode e que nos guie por essa viagem. Eu não encontro prazer...
Vinte e três horas agora, eu aqui na frente da tela luminosa... é aqui que encontro prazer?!
Calor de uns trinta e cinco graus... eu não sei onde tem prazer!
Não preciso de dinheiro, guarde o seu! Não preciso de carro, vou a pé ou de ônibus (trem é preferível), não preciso de casa própria, cartões de crédito, crédito, talões de cheque, roupa ou sapatos novos, não preciso de uma máquina de lavar ou de um forno microondas, de um armário novo de cozinha, de um guarda roupa mais resistente, nem de outra cama ou de outro colchão. Não preciso de Moët Chandon (cidra serve), Guiness (bavária tá bom), não tomo whisky, não quero um celular novo, não preciso enfim que meu nome seja inserido no rol da fama dos medíocres insatisfeitos que ostentam seu sorriso de plástico e que saem bem em toda foto... não preciso, não preciso, não preciso!
Preciso de amor: amar e ser amado. Básico assim, essa coisa básica cada vez mais complicada.
E que essas perdidas noites de sono não tenham sido assim em vão!