segunda-feira, fevereiro 02, 2009

02/02/1962 quarto 22

Cinco horas da manhã e coloquei o despertador para as cinco e meia. Para que mesmo o despertador? Ah! Para trabalhar amanhã, quer dizer, hoje, ou melhor dizendo, daqui a bem pouco...
Chegou o computador, quarta-feira passada, ligado aqui quase um mês depois que o pedi. Veio um que tinha um defeito, pedi a troca, a troca demorou, virou um presente a mim mesmo de aniversário, ou quase isso.
Um convite irrecusável para ir ao cinema, assistir O Curioso Caso de Benjamin Button. Chego em casa e cadê o sono que estava aqui? Não foi o gato que comeu, ele está dormindo. Caso curioso mesmo, nascer velho e morrer bebê, ir desaprendendo as coisas. Em vez de cultivar lembranças, próprio de quem viveu muito, estar à mercê dos esquecimentos. Bastante apropriado para a véspera de meu aniversário. Pois eu sinto que começo a me entregar aos esquecimentos, que são de longe melhores do que as lembranças, pelo menos algumas delas, ou talvez todas elas, não sei...
Reza a lenda que nasci no quarto número 22 da Santa Casa de Timburi, no dia 02 de fevereiro de 1962, às 11:15. Quarto filho de um farmacêutico e de uma dona de casa. Seis vieram depois de mim, três naturais e três adotados. Também reza a lenda que nasci engolindo o líquido amniótico, sem forças para romper a bolsa, tendo sido salvo pelo beijo necessário da Irmã Lúcia, que foi pelo gesto homenageada tendo seu nome emprestado à irmã que veio depois de mim.
Eu queria ser astronauta, a Lua já estava nos meus planos, a minha primeira grande paixão. Descobri que não dava para ser. Resolvi ser astrônomo, já que não dava para ir à Lua, eu saberia tudo dela. Descobri que tinha que fazer Física e depois pós-graduação em Astronomia. Ficou só essa paixão por Selene (a Lua) e pelas estrelas, os mistérios do céu, do universo. Um ano de Direito, um de História, dois semestres de Mecânica de Precisão (a matemática outra vez), três anos de Filosofia, este curso concluído, dando-me o título de Bacharel. Entre uma coisa e outra, desenho, poesia, entalhe em madeira, pintura (um ou dois quadros, perdidos), não necessariamente nessa mesma ordem. Hoje a poesia tem feito um certo silêncio e as folhas de papel teimam em permanecer em branco...
Não sei se na verdade me sinto velho para tanta coisa, meu caso também não deixa de ser curioso. Talvez muita coisa tenha acabado para mim e eu tenha que aceitar isso. Tenho uns planos secretos, se não derem certo pelo menos ninguém vai saber.
Não dormir muito talvez seja a melhor forma de viver mais, pelo menos mais horas do dia.
Eu pensava ainda ontem, domingo, as tardes tão iguais de dias tão banais, a pontualidade da matraca do vendedor de biju, e aquilo tudo que eu não fiz e tanto quis, os dias do calendário escoando da folhinha pendurada n'alguma parte da vida. Esse silêncio de um dia amanhecendo... e eu contando o tempo que falta para eu não me importar mais com o tempo. Não ter mais tempo para nada, absolutamente nada.

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