No fim de todas as coisas
Agora, depois de tudo terminado, fica a tortura de contemplar as ruínas. E o mais difícil na vida é carregar essas ruínas dentro de si. Aonde se vai leva essa coisa destruída dentro de si, essa coisa não reconstruída, o tudo desfeito a se impor ao nada refeito. Porque refazer demora e exige esforços descomunais. Fazer o novo é ainda mais fácil do que fazer de novo o que foi desfeito.
Penso o tempo como um grande espelho que vai se quebrando todo dia um pedaço e a gente vai ter que aprender a se ver sempre em cada caco de vidro, em cada estilhaço que parece que é o que é mesmo viver, estilhaçar-se no espelho do tempo.
Tudo o que somos não passa de escombros. E nos escombros o assombro de uma hora tão absurda, que sempre se teme chegar.
O que agora morre vivia outrora. E eu não vivi o suficiente para ver alguma coisa que pudesse renascer, para entender que nem toda fraqueza é força dissimulada. Alguma fraqueza é fraqueza mesmo. E somos todos filhos dela.
Muitas vezes não sei o que parece a vida. Uma casa onde todos morreram, uma rua deserta numa cidade desconhecida, e distante, um álbum de fotografias amarelecido de rostos idos já quase esquecidos, a triste lembrança de todos os momentos perdidos e este silêncio aterrorizador aqui dentro do peito, isto tudo perdido numa solidão tamanha que só um amor sem tamanho provoca. E se acaso invocas o meu nome no vazio de teu coração, no vazio e teu coração é que haverá de ecoar teu silêncio em meu silêncio. Este desencontro é como perder-se da vida a vida inteira, passar pelo tempo como se nunca tivesse vindo. E todo amor o tempo todo não passa de uma guerra.
E aquela guerra era pela paz. E a paz, então, pelo que seria? Não era paz. Morremos por tão pouco, quase nada. E nos ferimos e seguimos marcados com este fogo, este ferro, esta dor de tudo o que tem que doer para ser, amor ou qualquer coisa que valha, qualquer tralha que se usa por debaixo da mortalha, minha alma na fornalha e o vento violento que ainda espalha os meus sonhos de menino na fumaça deste esquecimento. E sou somente cinzas deste não pertencimento.
Amor, uma canção que nós todos esquecemos, emoção que nós todos perdemos, momentos vãos que já morreram.
Então é aqui o fim de todas as coisas? Então é assim, neste antes e neste depois, neste durante? Neste durante enquanto dura este olhar para o horizonte, quando um sol que se põe nunca mais voltará, quando a lua mais brilhante não mais virá. E a vontade do sonho não mais acontecerá. O último desejo deverá ser não desejar mais nada. E mesmo assim será ainda um desejo. Há que se ter mais nada, porque nada se carrega quando se vai além de onde não se pode ir.
E se não vou voltar, não preciso dizer adeus!
Fica com os meus cacos e devolve meus pecados, que fico também com os teus. E espalho essa vontade pelo infinito, onde sei que tudo pode ser bem mais bonito...
Agora, depois de tudo terminado, fica a tortura de contemplar as ruínas. E o mais difícil na vida é carregar essas ruínas dentro de si. Aonde se vai leva essa coisa destruída dentro de si, essa coisa não reconstruída, o tudo desfeito a se impor ao nada refeito. Porque refazer demora e exige esforços descomunais. Fazer o novo é ainda mais fácil do que fazer de novo o que foi desfeito.
Penso o tempo como um grande espelho que vai se quebrando todo dia um pedaço e a gente vai ter que aprender a se ver sempre em cada caco de vidro, em cada estilhaço que parece que é o que é mesmo viver, estilhaçar-se no espelho do tempo.
Tudo o que somos não passa de escombros. E nos escombros o assombro de uma hora tão absurda, que sempre se teme chegar.
O que agora morre vivia outrora. E eu não vivi o suficiente para ver alguma coisa que pudesse renascer, para entender que nem toda fraqueza é força dissimulada. Alguma fraqueza é fraqueza mesmo. E somos todos filhos dela.
Muitas vezes não sei o que parece a vida. Uma casa onde todos morreram, uma rua deserta numa cidade desconhecida, e distante, um álbum de fotografias amarelecido de rostos idos já quase esquecidos, a triste lembrança de todos os momentos perdidos e este silêncio aterrorizador aqui dentro do peito, isto tudo perdido numa solidão tamanha que só um amor sem tamanho provoca. E se acaso invocas o meu nome no vazio de teu coração, no vazio e teu coração é que haverá de ecoar teu silêncio em meu silêncio. Este desencontro é como perder-se da vida a vida inteira, passar pelo tempo como se nunca tivesse vindo. E todo amor o tempo todo não passa de uma guerra.
E aquela guerra era pela paz. E a paz, então, pelo que seria? Não era paz. Morremos por tão pouco, quase nada. E nos ferimos e seguimos marcados com este fogo, este ferro, esta dor de tudo o que tem que doer para ser, amor ou qualquer coisa que valha, qualquer tralha que se usa por debaixo da mortalha, minha alma na fornalha e o vento violento que ainda espalha os meus sonhos de menino na fumaça deste esquecimento. E sou somente cinzas deste não pertencimento.
Amor, uma canção que nós todos esquecemos, emoção que nós todos perdemos, momentos vãos que já morreram.
Então é aqui o fim de todas as coisas? Então é assim, neste antes e neste depois, neste durante? Neste durante enquanto dura este olhar para o horizonte, quando um sol que se põe nunca mais voltará, quando a lua mais brilhante não mais virá. E a vontade do sonho não mais acontecerá. O último desejo deverá ser não desejar mais nada. E mesmo assim será ainda um desejo. Há que se ter mais nada, porque nada se carrega quando se vai além de onde não se pode ir.
E se não vou voltar, não preciso dizer adeus!
Fica com os meus cacos e devolve meus pecados, que fico também com os teus. E espalho essa vontade pelo infinito, onde sei que tudo pode ser bem mais bonito...
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