segunda-feira, março 26, 2007

Vendo o mundo pela janela

Devia dizer que a tristeza por vezes pega um avião e vai lá para outro lado do mundo, ou para um outro estado ou outra cidade, para de manhã bem cedo estar já do meu lado, traduzida nesse sentimento um tanto depressivo de estar entregue ao que chamamos rotina.
Todo dia a mesma coisa, esse disfarçar que vive, que o futuro está ali em frente e sorrindo, que amanhã vai ser melhor do que hoje, sem ter certeza de que o hoje é melhor do que o ontem. O diabo é que vivemos o momento que passa, pelo menos nos nossos desejos, sonhos e anseios.
Rotina. Todo dia a mesma coisa. Eu aqui o dia inteiro diante do computador, minha janela para um outro mundo que não esse, ou melhor, para tantos mundos que não esse. Mas o que tenho é esse mundo.
As coisas podiam ser diferentes. Mas elas nunca são diferentes. As coisas são o que são, e mesmo nós poderíamos ser diferentes, mas somos o que somos.
Esse sentimento de inutilidade. Diante da realidade, ficamos procurando sempre dar um sentido a tudo, e esse sentido tem que ser no mínimo útil.
E a rotina estabelecida há tanto por não sei quem diz sempre que se tem que trabalhar, ganhar a vida, ganhando o dinheiro necessário para isso, planejar o futuro, ter uma ambição na vida, sonhos e planos, uma meta que seja, um sentido, portanto, à completa noção de absurdo que nos suscita viver a vida.
E eu queria agora somente e tão somente ser um inútil. Não passar disso, não ter o mínimo de destreza para e vontade para direcionar meu pensamento ao desejo de algo. O que eu almejo é não almejar, o que eu preciso é não precisar, e o que quero é não querer.
Tudo seria fácil, mas não seria real. Real é essa incompletude, esse buscar insano de sabe-se lá o que.
Passou todo esse dia e passou vazio. Com a absurda consciência de que oito horas por dia por trinta anos ou mais de nossa vida, passamos enfurnados num escritório.
Vendo o mundo pela janela.

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