segunda-feira, junho 04, 2007

Coisas à toa de nada à toa

Nós gostamos de sopa. E a sopa faz parte de nossa história. Na praça da alimentação da faculdade, sempre tomávamos aquelas de copinho, práticas e rápidas. Até um dia eu precisar estrear o meu novo jogo de panelas, que veio inclusive com uma panela de pressão. Já falei tanto desses quase cinco litros de sopa que deixamos só um fundo de panela, talvez um litro ou um pouco menos. Semana passada foi o frio e a proximidade que nos levou a mais uma sopa tomada ali na Av. Ipiranga. Ela é o tipo de amiga que quando nos encontramos não nos perguntamos como vão as coisas, a gente já vai falando delas, como se tudo fosse apenas o próximo capitulo. Nos já sabemos a história, porque fomos nós que a fizemos. Depois tive que agüentar o olhar de ciúmes de outras amigas do trabalho a quem eu disse que ela tinha tornado minha vida melhor naquele dia.
Você é daqueles que não tem uma, pelo menos uma, amiga assim? Então pode continuar a se lamentar em posts darks em blogs idem. Lamentação e tagarelice, até quando não nos livramos disso? Tagarelar e lamentar é matar todo pensamento e em cada pensamento qualquer poesia.
Estamos a planejar mais uma festa. E a impressão que tenho é que os amigos vão ficando antigos e distantes e precisam de festas para se encontrarem. Para aquelas coisas do tipo perguntar como você está, o que está fazendo, como vai a vida. Amigos, esses seres que nunca se entendem, precisam saber que não precisam de festa para se encontrarem, mas sim de um encontro no qual cada vez é uma festa. Nada melhor que um bom papo e uma pizza meia aliche e meia palmito com mussarela, num final de domingo. Sim eu sei, estou lendo Cortázar demais, o sexto livro dele que leio, Todos os Fogos o Fogo, oito magníficos contos, dando idéia de como queria escrever se soubesse escrever. E ver o mundo pela ótica cortazariana tem lá suas vantagens e suas coisas interessantes, e suas desvantagens, embora todas sejam aproveitáveis. Então meti numa roupagem de conto de Cortázar todas as festas que já fizemos, e talvez todas as que ainda vamos fazer. Um novo olhar para as pessoas e as coisas como elas são ou não são, vontade de entender essa realidade, mesmo que pareça sempre absurda. E nunca me surpreende o desfile dos personagens.
O telefonema de quinta me deixou com a sensação de que a conversa foi boa, e ao mesmo tempo difícil. Foi uma grande besteira mandar uma comprida carta lamentando que a saudade era muita e a distância difícil, para ela se colocar tão próxima lembrando que tudo isso já conversamos. Eu tenho sorte com as coisas inusitadas. E, de certa forma, uma propensão para estar sempre em meio a coisas inusitadas. Não bastava somente realizar o sonho de morar sozinho só depois de casado (no caso, com separação), agora tenho uma namorada que mora longe, bem longe, e ter que administrar isso me faz fazer umas besteiras aqui e ali. No fundo, não queria estar apaixonado assim. Mas no limite, não queria estar apaixonado de outra forma. E eu não vivo no fundo, mas sim no limite. Corro o risco de ela ser a mulher da minha vida, para sempre. Mesmo que não fique comigo. Mas se ficar, terei que ser o homem da vida dela. Simples assim. Amor não é outra coisa senão amor. Nós é que ficamos inventando adereços, enfeites aqui e ali, penduricalhos para o amor, contingências. E o amor não parece ser contingente, o amor tem sempre o jeito de ser fulminante, sempre aquilo de inusitado que vem depois das simples paixões.
Volto a pensar nos meus medos mais conhecidos, justamente aqueles que não tenho e nunca tive. Não tenho medo de ficar sozinho, de morar sozinho, de não encontrar uma pessoa e resolver ser apaixonado por todas as pessoas, de olhar para trás e dizer que se pudesse faria tudo de novo. Paira, no horizonte, apenas um velho medo de meus medos desconhecidos.
Outro dia pensei na velhice, que no meu caso já se avizinha. Quem lá vai estar comigo para um chá ou um vinho, um passeio pelo parque, para falar de livros, de poesia e literatura e até mesmo de filosofia, jogar xadrez, para falar de pintura, falar da vida, dos velhos tempos e dos novos, do tempo que se foi e do que vem? Quem vai estar lá comigo para atestar a passagem do tempo? Eu não faço a mínima idéia. E nem preciso fazer.
Peço apenas aos que quiserem isso que não envelheçam muito, porque eu estarei cada vez mais jovem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Idem, para as partes que couberem.