terça-feira, abril 15, 2008

Noturnas

Trailler de um post que não consegui colocar aqui ainda, um começo de poema, cabeça na estrada, asas nos pés, quilômetros de pensamentos não postados na vida, tanta inutilidade na combinação dessas letras-palavras-frases-períodos, distâncias são só distâncias.
"Longe eu me sinto longe, tão longe de tudo perto de nada, a estrada, longe e perto, tudo e nada, aqui onde tudo é tão onge, sinto você tão longe de tudo e tão perto de mim..."
Araçatuba, noroeste paulista. Uma noite insone, a descoberta de um computador com internet no hotel. Ter de esperar uma mocinha largar essa máquina, para poder usar um pouquinho, ver e-mail, ou melhor, não ver e-mail, quem está distante me joga ainda mais para longe com um silêncio injustificável. Abater-me ainda com mais esse peso da mesma trsiteza. Eu disfarço para mim mesmo com tanto esmero, mas estou esperando algo, esperando qualquer coisa. Sinto-me ridículo, todo o amor é ridículo, todo o romantismo é ridículo, ridículo, ridículo.
Faço-me forte, ergo a cabeça, sacudo os ombros, respiro fundo: eu vou saber viver sozinho, e isso é uma grande e tola mentira.
Essa volta à estrada bem que serviria para me "inspirar" outros poemas. (Agora estou no post rascunhado em tinta vermelha no papel almaço, passando a limpo). Ou bem que me serviriam essas andanças pelas estradas para fazer maravilhosas fotos para registro do que não se descreve com palavras. (Penso nela, ela entrou na minha cabeça, penso nela com agonizante insistência, não é justo, nada é justo no amor romântico). Mas não. Essa volta à estrada serve apenas para perceber-me assim tão só. Triste, mais triste do que poderia imaginar estar.
É como me sinto e odeio cada vez mais sentir, o sangue nas veias, um sufoco no peito, vontade de esmurrar o real à minha frente. É como me sinto -e esta é a minha maior crise-, desde a manhã em que me olhei no espelho e quase não me reconheci. Idiota! Disse ele. Grande idiota! Você é o maior desperdício de que já se teve notícia. A dúvida sobre o que é que pensam os que me vêem quando pensam que vêem. Danem-se todos. Este modo de estar só, de sentir-me só, tem um quê de revolta. É impossível olhar para si mesmo sem que esse olhar mude o mundo em volta, o mundo e as pessoas, sem que mude seu olhar para todos os outros.
Fingimento. A humanidade não é feita de representações nem de vontade, mas de fingimentos e apatia. Hipocrisia posta na ordem do dia nas horas mais oportunas, as pessoas são minha maior decepção e desgosto, mesmo que a contragosto eu ainda nutra alguma esperança nisso que ainda teimamos em chamar de ser humano.
Estar só: um soldado sem pátria, um caminhante sem destino, um rebelde sem causa. Uma andorinha a crer ainda em poder fazer verões. Duro saber que não se muda o mundo e as pessoas, tentar então mudar-se a si mesmo para o mundo e as pessoas. Tirar delas suas máscaras, tirar dele suas ilusões, quebrar delas as muletas, tirar dele as falsas esperanças, revelar a elas sua própria hipocrisia, abalar nele seu pretenso estado de equilíbrio alienado. As pessoas e o mundo, essas coisas desprezíveis tem que ser um fenômeno que se dá um ao lado do outro.
Brigas no trabalho, noites mal dormidas, a realidade essa solitária no presídio da vida, esse silêncio que atordoa, essa escuridão que cega, essa podridão que me consome. Raiva, agora eu sei que tenho, agora sei que sei usar. Um guerreiro no deserto brandindo sua espada contra fantasmas.
Penso nela, quero esquecer, mas penso. E se esqueço, quero pensar. Ela não. Ela torna a distância algo intransponível e o silêncio algo insuportável.
Essas melodias são minhas, só minhas, noturnas, soturnas, inoportunas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu odeio gente, mas é impossível viver sem algumas, principalmente as que não voltam.