Do rol dos posts encalacrados, quer dizer, encalhados, que andavam rascunhados por aí, mas que não dava para postar, porque há bloqueios, não meus, mas de outrem, quanto ao uso do computador. Falando nisso, preciso urgente de um computador em casa, estou perdendo de ficar digitando o que me vem em fúria como a erupção de um vulcão e não escrevo, ou rascunho e o rascunho fica velho, como estes. E são como um murro ou um beijo que não se deu na hora certa. Passada a hora, a coragem arrefece e tanto um quanto o outro perdem muito em significado. Mas vamos lá passeando os dedos pelo teclado, quem sabe tinha lá alguma coisa boa.
Porque depois disso aconteceu muita coisa boa, que contaria aqui, não fosse o fato de algo em ficar preso naquilo que lá trás eu não disse, que tenho que expurgar agora como peso morto que se joga fora, para não ficar o dito pelo não dito no ato de dizer.
De 01/05/2008 – 01:10
Mais de uma hora da manhã e eu já devia ir dormir. Tanto trabalho amanhã por fazer, trabalho enfim que me traz o maldito pão que o diabo amassa com os pés. Mas dormir é meu maior dilema. Resisto até a hora certa de ser vencido pelo cansaço. Como se quisesse prolongar cada hora de mais um dia que passa, como se tudo isso fosse só para viver mais e intensamente essa absurda espera.
E eu espero. Espero que passem todos esses dias que faltam para chegar não sei que dia em que toda essa espera terá se revelado inútil e tola. Para eu poder finalmente poder parar de esperar. Para eu poder seguramente não esperar mais nada.
Seu silêncio pesa sobre mim como um mundo que tenho que carregar nas costas. A distância me limita. E sua ausência me define. Há um vazio que é feito de tanta coisa que é vazia. Coisas que não se disse, que não se pensou, coisas que não se sentiu. E esse vazio em mim quer sempre se fazer angústia e desespero, quer se cercar de um medo tão horrível de esse dia chegar tão igual a todos os outros. Tão igual a todos esses que tenho tido, em que estou só porque triste e triste porque só
Meus dedos temem as teclas do telefone e sua voz ao longe é só mais uma dor na certeza de que isso é amor, tanto quanto eu queria saber que é amor o que sinto tão mais perto aqui. Seja como for, é amor, e como assim o é, é fome que mata aos poucos a cada dia. E é isso e tudo o mais que poder ser traduzido numa única e inegável palavra: saudade.
Dou por mim que o sentimentalismo é uma coisa ridícula e todo e qualquer sentimento só serve para isso mesmo, para nos tornar ridículos. Dou por mim que todos parecem se ocupar de sonhos, enquanto eu me ocupo de não dormir, eu me ocupo em não desistir nunca.
Até que seja finalmente vencido pelo cansaço. E durma. E desista.
Assim sei que saio ileso na batalha do passar das horas dos dias dessa absurda espera, compondo-me de tanta coisa vazia, alimentando-me de nada recheado de nada e temperado com nada, até que chegar o dia em que a espera terá que findar e, findada a espera, eu possa me deleitar como todo o vazio de tanta coisa que juntei.
E ser vencido pelo cansaço. E desistir. E dormir.
De 02/05/2008 – 00:47
Agora que já é tão tarde, não sei onde foram parar meus pensamentos, aqueles que eu tinha bem aqui perto ainda agora, que eu tanto acalentava mas que voaram pela janela e devem habitar agora a distante terra do esquecimento.
Se me aguçam os sentidos, ouço clamores que vêm daqui de dentro, que saem desse silêncio que tenho que fazer. Tic-tac é a música do tempo que passa a devorar-me, enquanto o que sei e tenho de tudo é só essa demora para tudo ficar um pouco, só um pouco, melhor.
Essa solidão só não é mais verdadeira por causa do desfile de pessoas que por aqui faço passar, pensando nelas e esquecendo de mim, importando-me com elas como que para esquecer de mim. Sempre esquecendo.
As outras pessoas são tudo o que devem ser. são tristes e mesquinhas, egoístas, egocêntricas, medrosas, desatentas e desatenciosas, incompreensíveis e insuportáveis. Mas o que importa mesmo nisso tudo é que elas são as “outras pessoas”. E, nisso, eu sou para as outras pessoas a outra pessoa. Sou outro. Que se dane, pois, esse e qualquer dilema ontológico e que cada um leve a passear sua crise existencial aonde quiser. A minha, um pouco conhecida e um tanto domesticada, levo sempre a andar entre as árvores do parque, dou-lhe bastante estrada para conhecer as distâncias, vou leva-la para a beira do rio, farei com que contemple horizontes, crepúsculos e luares. Porque ela é só minha e não divido com ninguém.
E ensaio uma certa devoção a uma certa misantropia. E se não consigo adora-la é por pura teimosia. Sempre acho que as outras pessoas se não estão a debochar de mim estão a me desafiar provocativamente. Eu bem que posso aceitar a contenda e no próximo baile de espelhos trocar-lhes as máscaras ou tira-las de vez. A verdade é uma caixa vazia em que vamos amontoando nossas mentiras.
O que me cansa é tanta conversa fiada que faz o tempo passar e nos consumir ainda mais. E também essa fuga que sempre travestida de busca, esse auto-aniquilamento fazendo as vezes de vida. O que me cansa é todo mundo depositar seu lixo em minha porta, suas excrescências em meus ouvidos. O que de fato me esgota é esse “AI-AI-AI-NHÉM-NHEM-NHEM” ad aeternum das outras pessoas que sempre esquecem de perceber que sou também uma pessoa.
De 20/05/2005 – 01:05
Mis uma rodada de cerveja! Vamos conversar. Abaixe o volume da música ou desligue o som, a TV, desliguem esse olhar viciado sobre as mesmas coisas. Vamos conversar. Afinal, a linguagem foi o maior investimento humano em evolução para ser desperdiçada assim tão à toa. Não me mostrem fotos, vamos aos fatos, vamos confiar na precariedade da memória, que sabe sempre guardar o que realmente importa.
Abandonemos os subterfúgios da convivência, deixemos de lado a covardia da conveniência, vamos nos encontrar porque gostamos uns dos outros, ficar satisfeitos porque já se tem um amigo, alguém com quem goste de estar, alguém em quem não se deixa de pensar.
Se não é para ser assim, deixem-me seguir rumo aos meus abismos, não se preocupem com o fundo do poço (que afinal é meu). E, sobretudo não alterem em nada a pintura de minha vida, não aliviem o peso de minha solidão, não interfiram com as causas e consequências dos momentos contingentes de minha realidade. Não provoquem sem motivo minha tristeza, ela sabe me atormentar sozinha, sem a ajuda de ninguém. Minha solidão e tristeza vão bem. Obrigado!
Não me venham em casa com nada na bagagem, não me apareçam de mãos vazias. Tragam sempre um sorriso, uma palavra nova e bela, uma história tocante e bela, sobre um sonho ou uma esperança, tragam-me nem que for a ilusão de uma quimera. Tragam-me carinho e consideração. O resto todo eu tenho. E tenho de graça, muito mais a dar do que imaginam. Não pensem que me agradam trazendo um anel de ouro para o meu tesouro de pedras. Dispenso suas pérolas, sou um colecionador de conchas que apanhei na areia de cada praia que meus pés pisaram para olhar o por-do-sol.
Chega de conversa! Vamos conversar de verdade. Falar de outras coisas que não as mesmas, que nossos problemas já fazem aniversários. Vamos fazer outras coisas, vamos ser outra coisa. Querer alguma coisa, querer buscar mais do que fugir. Não há lugar no mundo onde possamos esconder nossa tanta miséria.
A natureza fez me assim, parecer versado em vicissitudes humanas. E fez isso parecer menos um dom do que uma maldição.
Entrem em minha casa como quem entra num templo. Tirem os sapatos, as amarras, as roupas, deixem porta afora seus medos e preconceitos, seus dogmas, suas verdades infalíveis, sua visão carcomida de um mundo convencional. Abandonem tudo em prol do silêncio e deixem a escuridão apoderar-se de tudo.
Então nasçamos de novo, a cada instante, a cada morte a que somos submetidos em todo o momento que passa, nasçamos bem a tempo de não morrermos à toa.
E não se enganem. Tudo aqui é sagrado. E tudo ter um ar de profano. Tudo aqui é mundano. Aqui é meu mundo e eu sou só humano.
(Deixem-me ser rabugento quando quiser...)