quarta-feira, setembro 05, 2007

Eu te amo e pronto!

Eu te amo e pronto. Assim como quem termina uma obra. Dá os últimos retoques, olha-a e fica satisfeito com o que vê e diz: pronto! E depois tira o ultimo dia para descansar e chama esse dia de eternidade.
Dei os últimos retoques nessa minha obra, olhei para o que fiz e fiquei satisfeito. E tirei a eternidade do ultimo dia para descansar de tudo. Eu te amo! Pronto!
E nunca mais vou mexer nisso, mais nenhum retoque, nenhuma pincelada, nenhuma desbastada a mais nesse tão caro mármore de Carrara, nenhuma palavra a mais nesse poema, mais nenhum verso nessa poesia, mais nenhuma cena nessa peça, nenhuma tomada nesse filme sublime, mais nenhum capítulo nessa história, a mais bela que teria lido. Eu te amo! E pronto!

Há os que precisam de motivos para amar. E os que amam e desconhecem absolutamente qualquer motivo. E andam por aí satisfeitos, mais do que isso, felizes por serem capazes de um amor tão assim... sem motivo. Motivo quase que equivale à razão. A razão de eu te amar é... razão? Eu te amo e pronto! Tipo assim pirraça de criança, mania de velho, idéia fixa de um sonhador, certeza de um visionário, antecipação de um profeta. Se preciso for, eu te amo por pura teimosia. E por vocação. Eu te amo até por um certo talento. Não me envergonharia de te amar até por devoção.

Eu te amo porque te vi passar na minha vida. Por um brilho que vi em teus olhos, pelo calor e maciez das tuas mãos. Eu te amo por teu jeito de andar e falar, por teu jeito de escutar, teu jeito de desenhar um sorriso em teu rosto, pelo perfume de teus cabelos, pelas curvas de teu corpo, pela beleza incompreensível de tuas costas que são esculturas. Por tua boca que me engoliria como obra tua, por teus seios, por tuas pernas fortes e por tua pele que era para estar sempre à mostra, desde que andasses nua. Eu te amo porque encheste de vida as noites de minha rua. Eu te amo e pronto!

Eu te amo por cada pedaço de tua história, sempre emendados a outro e mais outro, a teu bel prazer, um pedaço em cada pedaço e uma história em cada uma de outras tantas histórias, a volta para casa da escola num dia de chuva, um tênis afundado no barro, um banho de mangueira, um gato macho com nome feminino, nem falo de tuas aulas de catequese. Eu te amo por tudo isso que lembro e por muito mais que não lembro. Eu te amo e pronto.

Eu te amo por cada lembrança que deixaste em minha vida, teu rosto entre meus livros na mesa, tuas alquimias no fogão, teus banhos narrados... ah! E as conversas pela janela do banheiro, por te ver tanto lendo deitada na cama, por te ver entrando e saindo daquele apartamento, por aquela luz acesa quando eu chegava à noite, por me pintares os olhos, por me abraçares dormindo, por passeares meus passeios, por enfeitares os meus dias e por iluminares minhas noites. Eu te amo e pronto!

Eu te amo por tudo o que disse. Por tudo que não disse ainda. Por tudo que ainda tenho a dizer. Por tudo que nem sou capaz de dizer.
Não sei. Não sei. Só sei que te amo!
E pronto!

2 comentários:

C@rLoS Ter@d@ disse...

"Se preciso for, te amo até por pura teimosia."...muito bom....se bem que a maioria dos teimosos se dão mal.
Realmente depois de um dos dois proferir o primeiro "eu te amo" não existe necessidade de resposta...muito menos o desgastado "eu também"...é proferido o primeiro e pronto..assim como se ama e pronto, e não precisa de uma resposta pois é uma afirmação e não uma interrogativa...assim como se afirma, eu te detesto, proferesse o eu te amo, muitas das vezes por motivos pueris...mas importantes aos olhos e sentidos do ser que ama(lembrei Roland Barthes)...
Quanto a minha amiga poetisa é poetisa maior de Franca, cidade paulista dos sapatos, muito gente fina, está no meu orkut.comente as poesias dela no blog dela...a poesia "Al dente" está fantastica...
Um grande abraço Marcão!

CAVALEIRO ANDANTE disse...

Então é mais ou menos isso o exorcismo maior da alma apaixonada. Você ainda cai na armadilha e procura razões (razões??) para amar e dizer que ama. Seria como se procurar razões para respirar. Eu preferi meu exorcismo particular de toda a abjeta razão que, em mim, não combina em nada com amor ou paixão, assumindo a fórmula "Eu te amo e pronto!
Lerei mais o post de sua amiga. E um dia, com mais coragem, comentarei.