quarta-feira, setembro 03, 2008

Ah, bom!

Eu acho que sei que é isso. Essa vida que não sei para que serve. Meu corpo torto indo de uma cidade para outra, levado por essas estradas, impiedosamente. Raízes? Não sei de raízes... tenho na memória uma coleção de rostos que temo esquecer. Minha casa vai ser sempre onde estou e, desse modo, vai ser em lugar algum. Aliás, parece que o mundo todo, todas as estradas e todas as cidades são lugar algum. Parece que não não há nenhum lugar em que eu (minha alma?) descanse devidamente.
Todos os lugares parecem (deveriam ser) como quartos de hotéis vagabundos: uma cama, um chuveiro e, quando muito, um aparelho de televisão, dispensável, totalmente dispensável o aparelho de televisão. Na bagagem, roupas, papéis e livros. Você pode levar a tristeza e a solidão para passear em outras paisagens, mas elas não se tornam coisa melhor... E se, aliada a elas a saudade de tudo aquilo que tanto quis e nunca fiz, completam esse quadro, um dia de nuvens sombrias e silêncios, de reflexões inúteis e de imprestáveis conclusões, você vê apenas que tudo o que se fez foi sentir o tempo passar, sem nada de interessante, uma loucura que seja, uma aventura excitante, um novo desafio, sem um outro olhar revelador sobre as mesmas coisas: só a voracidade do tempo a nos consumir.
É complicado amar e parece que ser amado é impossível. Prazer por sua própria rapidez e acuidade de sentido é tudo o que de mais superficial pode haver no que consideramos prazer, esse sentimento tido como impróprio e impuro, não natural e repugnante. Quem nos disse isso em nome de que seita dogma de que deus de que porcaria de paraíso?
Viver é administrar precariedades? Quantos livros mais de Kundera terei que ler para entender isso? Ou quanto tempo mais vou ter que viver para saber que nunca vou entender isso?
A lógica da felicidade (essa lenda) é excluir-se das possibilidades de felicidade, porque esta tem sua cara verdadeira oculta sob a máscara das impossibilidades. Será que é melhor "não querer" para não se decepcionar por não se ter o que se quer? Responda-me quem for capaz, enquanto eu vou seguindo justificando esse meu querer nada.
O que é que escondo tanto de mim mesmo a ponto de nem ousar imaginar como é o que sinto que sinto se é que sinto? Essa estranha e torturante capacidade de não chamar as coisas por seus nomes.
Eu amo e acho isso ridículo, como se eu não tivesse mais esse direito, ou como se não combinasse mais com o que sou, como se eu nem tivesse mais essa necessidade. Amo você e protejo você disso (pelo menos tento), protegendo talvez a mim mesmo. Enquanto isso, resta-me pairar entre esses tantos vazios, entre o querer e o não querer, entre o poder e o não poder querer e até mesmo entre o querer e o não querer querer.

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