quinta-feira, abril 05, 2007

Amor e Felicidade, Ilusão e Desilusão

A ilusão tem sempre o poder de tornar nossa vida mais suportável. Mas sempre será por meio de um gasto enorme de nossas energias vitais. Presente como uma promessa de prazer, felicidade ou durabilidade, quando se revela decepcionante, temos a desilusão. Parecem pares de opostos, mas são a mesma coisa, são sinônimos mais do que antônimos, porque fazem parte da vida, uma mesma vida, que nos traz os sonhos a que almejamos e a decepção diante da impossibilidade de realizá-los todos.
Nada há mais decepcionante do que ouvir de alguém que o amor não existe, que a felicidade não existe. Serão sempre estas expressões de quem teve uma decepção amorosa, ou talvez de quem tenha grandiosos sonhos de felicidade que não cabem dentro do âmbito da realidade, do realizável.
Seria o mesmo que eu dizer que o dinheiro não existe, porque não o tenho, ou o tenho não suficientemente. Ou porque não lido bem com ele. Em matéria de dinheiro, tenho um rol de decepções muito grande. O dinheiro, para mim, tem sido, há muito tempo, aquela relação entre débito e crédito, contemplada em meus extratos bancários. E sempre mais débito do que crédito. É fictício, irreal, a não ser por algumas vezes em que tenho nas mãos aqueles bonitos papéis coloridos e aqueles pedaços circulares de metal com belas gravações, coisas essas que desaparecem logo, sempre quando quero trocar por alguma coisa, de preferência alguma coisa que me dê satisfação.
“Eu não amo e não sou amado, logo o amor não existe”. Essa é a lógica dos desiludidos, que confundem o amor com alguma espécie de sentimento mais inferior, geralmente dirigido a uma pessoa ou a uma coisa, sentimento esse esgotável e corruptível, quase que descartável.
“Na vida não há felicidade, há somente momentos felizes”. Outra máxima daqueles que se entregam à derrota mesmo antes de iniciar o combate. Momentos felizes é um interessante recorte que se pode fazer de toda uma vida, mas a escolha desses momentos pode parecer um tanto arbitrária e descuidada. O momento do nascimento, é um momento feliz? Vai depender do parto. A festa do primeiro aniversário, quem se lembra? A não ser por relatos e fotos, quem tem dessa primeira festa uma boa lembrança. Começar a falar? Ora, a fala traz seus problemas, porque traz também, junto com o domínio desse dom, o fato de não ser compreendido, pedir e receber um não, perguntar e não ter resposta. Continua difícil o recorte. Entrar na escola. Os colegas, os livros, a professora, os cadernos, lápis e caneta, aprender coisas novas, expandir os horizontes. Mas têm as aulas e as lições, as provas e as notas.
O nascimento de um filho. Com certeza um grande momento feliz. Principalmente para quem curte bebês e brincar com crianças. Mas elas crescem e viram adolescentes e, para muitos, o fruto daquele momento tão feliz vira fonte de muitos aborrecimentos.
Mas não era sobre tudo isso que queria falar. Queria falar de amor e felicidade e a conseqüente ilusão e desilusão. Todas essas coisas tão parte da vida. Falta então, em vez de dizer amor e felicidade não existem, dizer se vivemos ou não, com direito a todas essas coisas que vêm no pacote.
Não seria um tédio se todos fossem plenamente satisfeitos? Que restaria buscar na vida? Como passar esse tempo que na verdade nos aproxima da morte? Convém não confundirmos satisfação com felicidade, embora podemos conceber que alguém esteja satisfeito mas não feliz, mas não o contrário.
Essa plenitude, quanto ao amor e a felicidade, é o sentimento mais platônico que se conhece. E, por mais que neguemos ou tentemos disfarçar, pode-se dizer não que somos platônicos, mas que Platão é que conseguiu definir bem como é que somos.
Pois é a vida que é a felicidade. Acordar vivo, mais um dia, e perseguir o sentido disso tudo. Amar a vida e sentir-se feliz por estar vivo não é alienação, comodismo ou resignação. É, antes de tudo, aceitar o fato de que a vida aí está para ser vivida, com todas as suas potencialidades.
No mais, um pouco de ilusão e um bocado de amor não mata ninguém. Pelo contrário, faz com que nos sintamos vivos.

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