quarta-feira, março 26, 2008

Van Helsing

Eu tentava lembrar onde tinha escrito uma coisa que cabia aqui, anotações de monte jogadas em tantos papéis e pastas, essas inutilidades de hoje em dia, encontrei numa pasta em que tinha etiquetado como “diário de uma tese de mestrado”. E estava lá começando com epistemologia, continuando com uma tentativa de algo em torno de estética, com o atraso todo que tem a minha leitura de literatura, os livros de Umberto Eco esperando para um dia serem lidos. E agora tentando pensar o ateísmo, algo que me levará inevitavelmente a Nietzsche. E já tentando pensar o que vem depois. A poesia há de se vingar de mim. Ou serei linchado um dia por todas as mulheres que desenhei.
“Meu apartamento, meu casulo, útero, bunker...” eu ia escrevendo assim e por aí vai alguém tentando entender a solidão, defender-se dela, o absurdo de se travar uma batalha contando com o exército de uma única pessoa.
E os vampiros em volta, reclamando a falta de sangue, fugindo enquanto estamos buscando, fugindo talvez da luz, quando nós somos capazes de viver mesmo na escuridão. E quem disse que a escuridão é de todo negativa? A escuridão é o silêncio das imagens.
Falta de espelhos e mergulhos interiores. Falta de asas e coragem para um grande vôo. Falta de madrugadas ou passeios noturnos pela cidade, falta de devoção para com o desaforamento da lua cheia, linda e bela lá no alto do céu.
Minha tristeza chega a esquecer-se da sua própria razão de ser, para estar a preocupar-se com a tristeza alheia. E assim minha tristeza fica ainda mais triste do que já é.
As pessoas me parecem tristes por tão pouco. Talvez um outro olhar para as mesmas coisas, um mesmo olhar para outras coisas, sei lá, um olhar apenas.
Os vampiros se ressentem de falta de vida, um coração no peito, alguma emoção além da fome de sangue. Devem invejar todos aqueles que têm sangue correndo pelas veias, que têm vida.
Paciência! Paciência com as pessoas e com as coisas. Paciência com tudo quanto achamos que existe.
Muito bom precisarem de mim. Mas também preciso de alguém. Alguém que me conheça e reconheça. Alguém para continuar as histórias largadas na metade pelo adiantado da hora nos dias anteriores. Continuar de onde se parou. Como se nunca tivesse parado.
Bobagem! Podia apagar tudo o que escrevi anteriormente e as pessoas não saberem essas coisas desconexas não faria falta nenhuma. Mas sou teimoso em minha teimosia teimosa e publico mesmo assim.
Ou talvez acordar um dia Van Helsing e resolver esses problemas todos.

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