segunda-feira, março 10, 2008

Xeque-mate em três lances

Eu vou lhes dizer uma coisa, prováveis e parcos leitores meus, as palavras continuam a me trair. Pelo menos em intensidade. Difícil decifrar estados interiores. Por isso o silêncio, o não ter assunto, o não falar tanto. Por isso uma certa falta de empolgação para esses nossos inúteis olhares para as coisas da realidade. Enfim, nem sempre é muito bom olhar para a realidade, nem sempre vantajoso, e nem sempre é um êxtase, nem sempre é arrebatador. Por vezes é um olhar para as coisas nuas e cruas, como são e não como deviam ser, como queríamos que fosse.
Não pensem agora que sei o que sinto e escondo. Nada disso. Posso calar muita coisa, mas esconder não escondo. A questão é que não sei mesmo. Olho para dentro e não vejo nada. Seria fácil se entendêssemos todos os já aludidos estados interiores. Se algo não tivesse bem, a gente ia lá e mexia alguma coisa, trocava alguma peça, ligava um fio solto. Não somos máquinas. Esse é o limite do transcendente que aceito como plausível.

Não é minha vez de jogar, a jogada tem que vir de lá. Fico então esperando o menor sinal, coisas ditas no que as palavras não dizem. Para entender tudo o que se passou recentemente, objeto de minha mais completa compenetração, de minhas elucubrações mentais e emocionais, minhas perguntas com interesse na resposta que mais me agrade, que se revele o que eu espero, senão de pirraça torno a não esperar mais nada.
E de lá, tão distante, num inédito e raro e-mail longo, vem um ínfimo sinal num pronome possessivo muito bem utilizado, encalacrado no meio de uma frase aparentemente sem nenhuma outra intenção a não ser simpática. Ela me pergunta “Como estão os meus dois sararás?” (o grifo é meu). Meu gato conquistador presta-me um grande favor. Mas não devo reputar isso a um ato falho dela, a não ser que eu repasse na mente de novo toda a sua estada em casa nos vinte nove dias entre os últimos dois meses.
Uma doce saudade torna mais leve essa tristeza que se impõe por causa da ausência dela. Não posso ser dado a esperanças, porque essa palavra já não pode mais existir no meu vocabulário. Esse jogo vai ficando cada vez mais intricado.
Ela tinha um bispo ameaçando o meu rei, moveu a rainha para uma posição excelente. Se eu não souber jogar, vai ser xeque-mate em três lances.

2 comentários:

Anônimo disse...

Falta de assunto, fugir da realidade... escrever por escrever? melhor escrever para criar um outro mundo, mais ou menos como a anaïs nin sugeria.
no fim das contas a falta de assunto gerou um assunto, com jogo e tudo!

C@rLoS Ter@d@ disse...

agora cabe a pergunta:já que a rainha está em posição excelente, não seria melhor ser derrotado pela fêmea ao invés do clero??rsrs