Vou voltar para casa. Toda a vida se resume em voltar para casa, a casa que me resta tão diferente de tudo o que um dia foi casa. Minha casa das ilusões, de fingir que tudo está tão bem com o que se tem. De me esforçar para não desabar a frágil estrutura que não sei para que lado vai, se da reconstrução ou da ruína.
O futuro me olha de longe, indiferente, sei que seus planos não me incluem, não consideram minha existência. E sei que é tarde para tanta coisa. Só não sei o que é que se há por fazer que não seja ainda tarde. Sei bastante do tempo perdido, que não se busca mais, porque não vale a pena. Nem tanto.
Eu me lembro de mim e esse tempo de que me lembro é sempre outrora. Às vezes nem sei se lembro, nem sei mais se posso lembrar se fui feliz ou não. Algumas alegrias pelo caminho, isso sim. Alguns muito bons momentos, talvez. Alegrias que nunca me prometeram ser eternas e nem nunca firmaram o compromisso de tornarem-se felicidade. Felicidade? Na metafísica dos sentimentos tornados possíveis pela tola e vã razão, de longe o mais obscuro. As alegrias, pelo menos, talvez tenham sido sinceras.
Terá havido amores. Por certo, algo perto disso que se pode chamar amor. Ou paixão talvez. E entre esta e aquele o enorme abismo onde ensaiamos nossos tímidos passos de viver. Viver! Essa aventura impossível, e incabível, insuportável. Por vezes torturante. Esse permanente desejo de ser mais do que se pode ou do que se consegue, sempre outra coisa que não a coisa que somos.
Se ainda há de permanecer qualquer coisa que possa chamar de paixão, o amor tornou-se mais abstrato e inatingível. Vou me apaixonar por muita coisa ainda, por muitas pessoas, por algumas mulheres ou por uma mulher em especial. Mas vou desistir logo, dada a impossibilidade de isso poder ser amor. Inventaram de “desinventar” o amor. E não inventam de reinventar.
Certo de que ninguém mais daqui em diante vai me amar, tudo se tornou de repente um sonho inútil. Vou amar à toa, inutilmente e sempre em segredo. Jogaram a água do banho com o bebê dentro. Varreram do mundo dos nossos sentimentos logo o maior deles, o mais genuíno. E construímos nossos castelos de emoções espúrias. Num mundo tão prático toda emoção é bastarda.
Hoje o amor é visto como possibilidade. E como possibilidade o amor é contingente. É algo a se considerar, a escolher. Isso mesmo. Damos sempre a impressão (e temos essa pretensão) de que escolhemos em matéria de amor. Havia um tempo em que era doce a ilusão de que o amor é que nos escolhia. Mas tem coisa pior do que isso. O amor é também objeto de conhecimento e, quanto a isso, assolado pelas mais severas críticas, sejam intelectuais, culturais e até mesmo filosóficas. Eu diria que até críticas científicas. E a verdade é que ninguém mais é capaz de sentir amor, ou de se entregar a esse sentimento.
Se há ainda alguém que resista a isso, é logo taxado de romântico, como se ser romântico fosse ser portador de uma doença abominável, de um defeito grave, ou ainda ser ultrapassado. O amor está fora de moda. Eu sou fora de moda e vez por outra sou acusado de ser romântico. Já me xingam de poeta, logo haverão de me chamar parnasiano.
Sempre que puder vou reavivar a polêmica dicotomia posta arbitrariamente entre razão e emoção. Ainda que não considere um par de opostos, pois não se anulam de forma alguma, e ainda que muitas vezes não se complementam, pois o excesso de uma sempre há de atrapalhar outra, diria que razão e emoção convivem perfeitamente. Mas afirmo que a emoção não é racional e a razão não é emocional. A não ser que isso seja extremamente necessário.
Tudo isso para dizer que parece que vou desistir de amar. Cansado de coisas inúteis nessa vida, vou tentar arranjar algo mais proveitosos para fazer. Então, desisto. E muito a contragosto.
O futuro me olha de longe, indiferente, sei que seus planos não me incluem, não consideram minha existência. E sei que é tarde para tanta coisa. Só não sei o que é que se há por fazer que não seja ainda tarde. Sei bastante do tempo perdido, que não se busca mais, porque não vale a pena. Nem tanto.
Eu me lembro de mim e esse tempo de que me lembro é sempre outrora. Às vezes nem sei se lembro, nem sei mais se posso lembrar se fui feliz ou não. Algumas alegrias pelo caminho, isso sim. Alguns muito bons momentos, talvez. Alegrias que nunca me prometeram ser eternas e nem nunca firmaram o compromisso de tornarem-se felicidade. Felicidade? Na metafísica dos sentimentos tornados possíveis pela tola e vã razão, de longe o mais obscuro. As alegrias, pelo menos, talvez tenham sido sinceras.
Terá havido amores. Por certo, algo perto disso que se pode chamar amor. Ou paixão talvez. E entre esta e aquele o enorme abismo onde ensaiamos nossos tímidos passos de viver. Viver! Essa aventura impossível, e incabível, insuportável. Por vezes torturante. Esse permanente desejo de ser mais do que se pode ou do que se consegue, sempre outra coisa que não a coisa que somos.
Se ainda há de permanecer qualquer coisa que possa chamar de paixão, o amor tornou-se mais abstrato e inatingível. Vou me apaixonar por muita coisa ainda, por muitas pessoas, por algumas mulheres ou por uma mulher em especial. Mas vou desistir logo, dada a impossibilidade de isso poder ser amor. Inventaram de “desinventar” o amor. E não inventam de reinventar.
Certo de que ninguém mais daqui em diante vai me amar, tudo se tornou de repente um sonho inútil. Vou amar à toa, inutilmente e sempre em segredo. Jogaram a água do banho com o bebê dentro. Varreram do mundo dos nossos sentimentos logo o maior deles, o mais genuíno. E construímos nossos castelos de emoções espúrias. Num mundo tão prático toda emoção é bastarda.
Hoje o amor é visto como possibilidade. E como possibilidade o amor é contingente. É algo a se considerar, a escolher. Isso mesmo. Damos sempre a impressão (e temos essa pretensão) de que escolhemos em matéria de amor. Havia um tempo em que era doce a ilusão de que o amor é que nos escolhia. Mas tem coisa pior do que isso. O amor é também objeto de conhecimento e, quanto a isso, assolado pelas mais severas críticas, sejam intelectuais, culturais e até mesmo filosóficas. Eu diria que até críticas científicas. E a verdade é que ninguém mais é capaz de sentir amor, ou de se entregar a esse sentimento.
Se há ainda alguém que resista a isso, é logo taxado de romântico, como se ser romântico fosse ser portador de uma doença abominável, de um defeito grave, ou ainda ser ultrapassado. O amor está fora de moda. Eu sou fora de moda e vez por outra sou acusado de ser romântico. Já me xingam de poeta, logo haverão de me chamar parnasiano.
Sempre que puder vou reavivar a polêmica dicotomia posta arbitrariamente entre razão e emoção. Ainda que não considere um par de opostos, pois não se anulam de forma alguma, e ainda que muitas vezes não se complementam, pois o excesso de uma sempre há de atrapalhar outra, diria que razão e emoção convivem perfeitamente. Mas afirmo que a emoção não é racional e a razão não é emocional. A não ser que isso seja extremamente necessário.
Tudo isso para dizer que parece que vou desistir de amar. Cansado de coisas inúteis nessa vida, vou tentar arranjar algo mais proveitosos para fazer. Então, desisto. E muito a contragosto.